O ácido úrico é um subproduto da degradação da purina, componente da proteína de alguns alimentos. A hiperuricemia denomina seus níveis sanguíneos elevados e dentre as causas temos predisposição genética, aumento da sua produção (o mais comum) e/ou redução da excreção.
Os homens são mais afetados pelo problema, em decorrência de maior exposição a fatores de risco, somado ao papel uricosúrico desempenhado pelo estrógeno (hormônio feminino), que aumenta a eliminação do ácido úrico pela urina, tornando hiperuricemia rara em mulheres antes da menopausa.
Estima-se que até 13% os brasileiros tenham níveis sanguíneos elevados de acido úrico, a herança familiar é relatada em 40% dos casos e a grande maioria é assintomática. As principais doenças relacionadas ao excesso de acido úrico compreendem:
- Gota: inflamação de articulações, gerando dor, deformidades e problemas funcionais em casos mais severos
- Litíase urinária (“pedra nos rins”): estima-se que cerca de 8% dos cálculos urinários sejam formados por ácido úrico e esta prevalência encontra-se em crescimento. Tais cálculos podem ser dissolvidos com tratamento medicamentoso, além de medicadas comportamentais e alimentares.
A elevação do ácido úrico frequentemente se associa a síndrome plurimetabólica, por sua vez relacionada a doenças cardiovasculares, principais causas de mortalidade em nosso meio, havendo associação da hiperuricemia com risco de morte e eventos cardiovasculares de maior impacto. O excesso de peso, Diabetes Mellitus, dislipidemias (aumento de colesterol e triglicerídeos), Hipertensão Arterial e esteato-hepatite não alcoolica são associações comuns por comungarem de um mesmo fator de risco: hábitos inadequados de vida e alimentação.
Dentre os principais alimentos com potencial uricogênico, destacam-se os frutos do mar, miúdos (ex moela), alguns grãos como o feijão, grão de bico e lentilha,além do consumo excessivo de carne vermelha. O álcool possui papel deletério no metabolismo das purina, reduzindo sua excreção e a cerveja contribui e muito para a elevação do ácido úrico, sendo gatilho frequente nas crises dolorosas de Gota. Dentre alimentos benéficos, destacam-se café, vitamina C, alimentos ricos em fibras e frutas vermelhas
Além disso, algumas medicações (ex. diuréticos tiazídicos, quimioterápicos) e outras doenças (ex: tumores) podem aumentar o acido urico.
Quando se preocupar com o ácido úrico? A bandeira amarela deve ser estiada desde sua elevação (com índice maior do que 7,0 mg/dl para homens e acima de 6,0 mg/dl para o sexo feminino), visto que a maior associação decorre de hábitos deletérios de vida e alimentação. O tratamento medicamentoso associado se impõe se houver doença relacionada ao surgimento de cristais de urato e em assintomáticos quando os valores sanguíneos de ácido úrico ficam, de forma persistente, acima de 13 mg/dl nos homens ou 10 mg/dl nas mulheres.
Como a produção em excesso é o principal motivo da elevação do acido úrico, podemos afirmar que no mais das vezes a hiperuricemia é uma doença “da boca” e nesse contexto bons hábitos de vida e alimentação são fatores indissociáveis para uma vida longa, saudável e com menos sofrimentos. “Faça do alimento, seu medicamento”.